6 de abr. de 2017

Olhos cor de que?

A gente nunca sabe se dura uma noite ou se dura uma vida. Nunca sabe se aquela conversa sobre os próprios defeitos vai fazê-lo ficar ou sair correndo por horas a fio sem olhar para trás. No começo a gente se agarra aos detalhes para tentar decifrar no que é que aqueles encontros de segunda à noite vão dar. De repente se pega olhando pro teto e refazendo os diálogos da última conversa que é pra ver se da próxima vez consegue dar menos na cara. Não era joguinho no começo e não vai ser agora. Minha meta sempre foi o manter interessado. Interessado em mim, nos nossos encontros e reencontros, nas conversas jogadas fora, nas pernas entrelaçadas e nos risos frouxos. Ele é desconfiado, cético e de poucas palavras, mas é o equilíbrio entre os pés no chão e a minha extravagância diária. Sou impulso, inconsequência, irresponsabilidade. Ele tem as próprias regras e não faz vista grossa, a não ser para todos os textos que escrevo para ele e o sem vergonha segue fingindo que não os vê. E tá tudo bem, eu escrevo e vou fingindo que nada é pra ele também. E quem sabe ele esteja mesmo certo. Vai ver é desse equilíbrio que eu tanto gosto. Vai ver são os olhos cor de folha seca que não me deixam desviar, virar e não voltar.

13 de mar. de 2017

É lua cheia

Já deu uma olhada na lua hoje? Eu tava aqui, da janela do terceiro andar, viajando nela. Lembrando do quanto a gente planejou ficar sob o mesmo céu com estrelas, de mãos dadas e, quem sabe, fazendo amor. Não faz muito tempo desde aquele fim de semana diferente de todos os outros que tivemos. Só nós dois, sentindo o vento na cara e tentando encontrar o caminho de volta pra casa. Parecia despedida, e não era só do lugar lindo que havíamos acabado de conhecer. Não era só da cama quente e confortável que serviu de ninho pra aquilo que a gente faz de melhor. Não era só do céu azul e limpo, nem do barulho que quase não era ouvido. A gente estava também se despedindo do "nós", e parece que no fundo, mesmo sem entender, já sabíamos o que estava por vir, o que inevitavelmente ia acontecer. Impossível dizer que não foi bom. A gente tinha intensidade pra várias gerações. A gente tinha sinergia, e muitas das suas vontades também eram minhas. Não sei dizer se eu te conhecia, mas eu sabia grande parte do que você sentia. Talvez, amar seja diferente pra cada um de nós. Se antes eu não tinha certeza, hoje, olhando pra lua eu entendi.

11 de mar. de 2017

Livres e juntos

Não é possível que ele ainda não saiba. Nem com todos os sinais, nem com tudo que já passamos e que seguimos tentando esquecer. Nem com todos os detalhes e lembranças de cada dia lindo que vivemos juntos. Nem com tudo isso, e um pouco mais, ele se deu conta de que eu largaria qualquer Ricardão do futuro, com promessas de uma vida boa em Dublin, por uma vida com ele. Livres e sem garantias, com os cabelos ao vento, olhando o sol se pôr lá na frente, no fim da estrada, através do parabrisas riscado de um carro velho qualquer, sentindo a mão dele pousada na nossa aliança no meu dedo anelar. Não dá pra acreditar que ele não tenha descoberto que eu o escolheria mesmo depois de mais uma briga.

5 de mar. de 2017

Na quinta você vem ou na quinta que vem?

Ei, não me deixa imaginar. Não joga indireta. Fala na cara, fala com a alma. Não fui treinado para decifrar, adivinhar, chutar. Qualquer dia desses eu leio que já era e aí cê só vai me ver se for por acaso numa festa qualquer. Tem quanto tempo que tu não me liga? Eu  não costumo contar. Pode fazer 2 dias ou 3 semanas. É meu jeito. Desapeguei, me neguei, nem liguei. Era pra ter sido ontem o nosso encontro, mas como você não lembrou eu só tô lembrando hoje. Reparei que sobrou um dinheiro, e pelas minhas contas era pro hambúrguer que eu ia te comprar. Lembra que daqui 15 dias é meu aniversário? Vou dar um churrasco, chamar a galera e tocar um som. Pode aparecer. Tu já tava convidada antes mesmo de tudo acontecer. Não liga se eu não ligar. O tempo tá corrido e só sobra tempo pra dizer que hoje não vai dar.

4 de mar. de 2017

Dá pra desconhecer?

Só Deus sabe onde ele está agora. E eu, bom, a única certeza que tenho é de que não está comigo. Da última vez que nos vimos ele gritou, olhando nos meus olhos, que eu estava louca por achar que minhas grades iam segurá-lo, então, eu o deixei voar e agora posso ver que não era realmente meu. E por não ser, eu chuto que nem deveria tê-lo conhecido. Deve ter sido por teimosia. O certo era ter continuado em casa, trocando de canais com o controle na mão. Controle da TV, da minha vida e principalmente das minhas vontades. Não é que ele tirou tudo de mim, é só que grande parte das coisas perderam aquele detalhe, sabe? Seja os dedos entrelaçados enquanto procuramos alguma coisa no shopping, seja o calor do corpo dele substituindo um cobertor nos dias não tão frios assim. Mas fim. Acabou. Da mesma forma que nos acostumamos com a falta de sal na comida quando a hipertensão é descoberta, vou me acostumar com a falta dele. Pode levar um tempo. Só espero que não leve muito, não leve tudo, não me leve.

3 de mar. de 2017

Oi, quem é?

Ontem eu decidi apagar seu número. Não ajuda muito, porque eu ainda o sei de cor, mas me fiz esquecer e isso é tudo que importa agora. Não tô querendo acompanhar seu status nem viajar nas tuas fotos, principalmente naquelas que eu apareço refletida no teu óculos espelhado. Na minha cabeça, isso não muda o fato de que cê tá presente em cada pensamento louco e bobo do meu dia, mas eu vou me convencendo de que isso tudo é passado, e quem sabe uma hora realmente passa. Fato é que se você chamar eu ainda volto. Pior é que você sabe disso e de um jeito ou de outro tá me deixando vulnerável. Pro bem ou pro mal, tu sabe que eu não tenho o dom de esquecer o que já foi. Sabe também que nunca cumpro minhas promessas. Talvez por isso, o nosso futuro é sempre tão incerto e difícil de se ver. Pensei que seria bom a gente se reencontrar só pra colocar em dia tudo aquilo que a gente sabe que combina. Você ainda lembra? Não tem problema se na sexta tu fugiu de casa e passou a noite fora. Algumas coisas são justificáveis, assim como o wi-fi que eu tô conectada agora. Vamos combinar assim: sem perguntas. Só nós dois no silêncio dos próprios gemidos. Depois eu anoto teu número de novo e você me fala seu nome.

2 de mar. de 2017

Apenas Amigos?

Você se lembra daquele dia na porta da sua casa que a gente prometeu que seria apenas amigos? Lembra que o corpo não acompanhou as palavras e os olhos nos traíram? Quando a gente se deu conta estava olhando um pra boca do outro, com a testa franzida e a pupila dilatada. E aí você revirou olhos e sorriu. Exatamente aquele sorriso de lado, daquela foto no bar que eu guardei a sete chaves pra poder olhar toda vez que a tristeza chegar. Lembra que dois dias depois eu tava no sofá da sua casa, seu braço por cima do meu ombro e a sua respiração chegando pertinho do meu pescoço? Mesmo com todo aquele formigamento passeando pelo corpo inteiro a gente suspirou, se afastou e seguiu cumprindo a nossa promessa. Mesmo com todo desejo contido e com a lembrança do quanto o que a gente faz entre quatro paredes funciona, a gente lutou para cumprir a promessa. Tava pensando que é isso que falta no mundo, a galera levar a sério as promessas que faz. Aquele cruzar de dedos mindinhos não precisa ser em vão. Tô sentindo falta de como a gente ligava para os detalhes e do quanto as promessas significavam pra gente. Não importa se uma semana depois eu saí da sua casa com a boca inchada e descabelada, enquanto a gente pôde, a gente cumpriu.

31 de jan. de 2017

É hora de superar

No começo é fácil amar. Vocês estão se conhecendo e se esforçam para agradar o outro. Investem na busca de descobrir os gostos, as preferências, os sonhos, e vai se empenhando para esconder os defeitos e camuflar o passado. O tempo voa e o ciúme dá as caras. Junto com ele a insegurança, a teimosia e as mentiras. A bagunça dela começa a incomodar e o jeito certinho dele te desanima. Ela vai percebendo que você não presta atenção em tudo que ela diz e que outros programas te atraem mais do que a antiga vontade de estar com ela no domingo à noite. De repente, você se assusta ao ver que ela sabe gritar e percebe também que a sua paciência é maior do que havia imaginado... É simples amar enquanto vocês planejam e fazem a viagem dos sonhos, quando as músicas tocam na hora certa e o frio na barriga aparece enquanto os olhos se encontram cheios de admiração. Mas uma hora acontece e esse mesmo olhar mostra decepção. Aí fica difícil encarar e dizer "eu te amo", mesmo que o amor ainda esteja ali, mesmo que o coração ainda acelere com a chegada do outro, mesmo que o olfato capture os cheiros de longe. Com tempo e sabedoria vocês vão entender que o verdadeiro amor persiste e é paciente. É preciso respirar fundo. É quando tudo parece muito difícil que se encontra coragem para reconhecer os próprios erros, abrir o coração, perdoar, insistir e se esforçar para melhorar.

27 de jan. de 2017

Deixa o coração bater

Ninguém se apaixona do nada. Quando alguém chega, sempre trás uma coisa ou outra que é decisiva para mudar a antiga vida que você tinha. Vez ou outra a pessoa é diferente de tudo que você já conheceu e pelo bem ou pelo mal ela te instiga. De repente você vê alguém que não tem nada a ver contigo se aproximar e ganhar seu respeito, seu carinho, sua tolerância. Do nada ela também te tira o orgulho bobo, as inseguranças e o medo de arriscar. Pode ser que lá na frente você quebre a cara e se arrependa da maldita hora que resolveu sair de casa no dia em que conheceu aquele alguém, mas nem todo desacerto é caso perdido ou tempo jogado fora. A gente aprende muito com o que ganhou e mais ainda com o que perdeu. Se amanhã ou depois você sair da minha vida, eu vou cair na real de que não era pra ser eterno. Mas isso não apaga o que passou. Foi bom, durou o que tinha pra durar e acabou. Tá tudo bem. Você não vai ser o pai dos meus filhos, nem o cara que vai conhecer a Escócia comigo, mas foi você que tirou meus pés do chão e me fez perder o medo de amar e de beijar em público. Foi você também que me deu coragem pra enfrentar meus pais e sair de casa naquela sexta à noite pra voltar só na segunda de manhã. Eu também não vou ser a mulher que vai bagunçar sua cama todos os dias, nem a que vai estar ao seu lado fazendo um chá quando uma gripe te pegar, mas fui eu que te fiz ver que amar é intenso, que às vezes dói, mas que vale a pena arriscar. Não vai ser mais "nós", mas foi assim por muito tempo e é só isso que importa. Melhor se entregar e deixar o coração bater do que só apanhar e não amar.

10 de jan. de 2017

Prazer, sou sua

É sempre assim, do nada, sem planejar e, às vezes, sem querer que aparece alguém e nos faz mudar de ideia sobre o amor, sobre a vida, sobre as cores e até sobre espaço. Uma hora a gente se cansa dos destinos de sempre, das conversas de sempre e dos fins de toda hora. A pessoa chega e a gente se vê deixando ela entrar e fazer morada. Aquele "boa noite" já não é mais o mesmo, parece incompleto e repleto de vontade de ser ouvido de perto, ali, na pontinha da orelha, sentindo o cheiro dos cabelos dela e vendo que o toque tem muito mais poder do que se podia imaginar. É assim mesmo, do nada, que a gente que sempre gostou da liberdade se pega de mãos dadas com alguém que se apegou aos mesmos gostos de cá. A gente acaba trocando uma sexta à noite, um domingo de manhã, um churrasco com os gringos e quando se toca, já trocaram de roupa e de pele. Sabe a nudez? É mais que isso. A alma fica transparente e até o que não é dito vai ser lembrado. E aí, de repente a gente se apresenta à músicas, pessoas, lugares e vai, no dia-a-dia, querendo cada vez mais ficar.