16 de nov. de 2016

Só escuta

Eu sei que às vezes as coisas ficam difíceis como têm sido ultimamente, mas isso passa, uma hora passa. Passa tudo, passa um mundo de coisa, mas passa principalmente quando nos lembramos do que trouxe a gente aqui. Passa porque uma vez você me disse que o futuro era incerto e que talvez a única certeza que você tinha era a de que queria passar por toda essa incerteza comigo. Disse isso e sorriu pra mim, num dia que fazia uns 15 graus e a gente usava touca e moletom com o vidro do carro lacrado. No começo você me perguntou se a gente tinha alguma coisa e eu disse que não – e eu nunca me arrependi tanto de uma resposta quanto essa que eu dei. É claro que já tínhamos algo, muito mais que algo. Tínhamos planos e sonhos, pequenos e grandes, de curto e longo prazo e isso era o bastante para vivermos, pelo menos, uns 35 anos juntos. Se antes eu tinha dúvidas, bom, já faz um tempo que não tenho mais. Nós temos um sofá na sala em cada casa, uma conta compartilhada no netflix e uma série preferida em comum. Temos um edredom pra quando vou dormir na sua casa e uma caixa com cartas e flores. Tem também um álbum de fotos só nossas e um check-list com os próximos destinos de viagens. Tem a nossa forma de mostrar que amor faz barulho, mas é silêncio. E o nosso silêncio não corta. Te conto tudo isso porque senti sua falta nas últimas horas e senti falta dos teus botões desabotoados no chão da sala. Falta de desabotoar a mágoa e pedir desculpas, pedir comida num restaurante da vida e pedir pra você me fazer um carinho. Pedir abrigo e te ver contando dos sonhos que eu nunca sonhei, mas que são meus por tabela porque eu gosto mesmo é de te ver feliz. Te conto tudo que é pra você deitar aqui e só sair de manhã cedo por causa de algum compromisso na agenda. E quando o povo disser que o “pra sempre” não existe, não ouve não e vem remar comigo.

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