21 de set. de 2015

Como se não bastasse

As histórias só mudam de endereço, eu sei porque conheço tanta gente que fala da mesma coisa, que olha pra tudo do mesmo jeito, que, às vezes, tenho a impressão de estarmos todos morrendo afogados sem tentar nadar. As razões dos desafetos nem variam muito, tem sempre alguém arrumando um jeito de magoar outro alguém, tem sempre alguém a espreita fitando a próxima vítima, como se a vida fosse um jogo bobo e banal. Como se tivéssemos tempo para perder com todas essas dores vãs. A gente tá sempre deixando quem não deve entrar, e por alguma razão estúpida, que ainda não descobri, a gente ainda arruma desculpas para repetir. Parece até que a gente gosta de sofrer. Talvez nem exista um lado trágico nessas tentativas malucas, mas engraçado também não é. Uma corrida louca para fugir da solidão enquanto a gente inventa de brincar com algum coração. Sem intenção nenhuma de morar, a gente passa pelo portão com uma mala nas mãos para criar boa impressão, uma mala vazia, ou com uma muda de roupa sozinha. Somos recebidos com taças de vinho, risadas, e cheiro de casa. Na manhã seguinte, a gente vira as costas e some do nada. Como se não estivéssemos deixando nada que valesse um poema para trás, partimos dali com a mala vazia e o peito cheio de egoísmo. E a gente acaba deixando despedaçado quem só se esforçou para sermos inteiros. Como se não bastasse a rapidez com que tudo acaba, a gente ainda tem coragem de partir o coração do outro com um sorriso, cínico, na cara, não dá tempo nem de ver se a pessoa sorriu de volta ou se espatifou-se no chão. Mas tudo bem, né, enquanto estivermos partindo, não tem problema, o problema só torna-se nosso problema quando partem de nós. Aí o sorriso some da nossa cara, e a gente descobre que isso não tem graça, que ironia não é?

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