As histórias só mudam de endereço, eu sei porque conheço tanta gente que fala da mesma coisa, que olha pra tudo do mesmo jeito, que, às vezes, tenho a impressão de estarmos todos morrendo afogados sem tentar nadar. As razões dos desafetos nem variam muito, tem sempre alguém arrumando um jeito de magoar outro alguém, tem sempre alguém a espreita fitando a próxima vítima, como se a vida fosse um jogo bobo e banal. Como se tivéssemos tempo para perder com todas essas dores vãs. A gente tá sempre deixando quem não deve entrar, e por alguma razão estúpida, que ainda não descobri, a gente ainda arruma desculpas para repetir. Parece até que a gente gosta de sofrer. Talvez nem exista um lado trágico nessas tentativas malucas, mas engraçado também não é. Uma corrida louca para fugir da solidão enquanto a gente inventa de brincar com algum coração. Sem intenção nenhuma de morar, a gente passa pelo portão com uma mala nas mãos para criar boa impressão, uma mala vazia, ou com uma muda de roupa sozinha. Somos recebidos com taças de vinho, risadas, e cheiro de casa. Na manhã seguinte, a gente vira as costas e some do nada. Como se não estivéssemos deixando nada que valesse um poema para trás, partimos dali com a mala vazia e o peito cheio de egoísmo. E a gente acaba deixando despedaçado quem só se esforçou para sermos inteiros. Como se não bastasse a rapidez com que tudo acaba, a gente ainda tem coragem de partir o coração do outro com um sorriso, cínico, na cara, não dá tempo nem de ver se a pessoa sorriu de volta ou se espatifou-se no chão. Mas tudo bem, né, enquanto estivermos partindo, não tem problema, o problema só torna-se nosso problema quando partem de nós. Aí o sorriso some da nossa cara, e a gente descobre que isso não tem graça, que ironia não é?
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